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O GUARDIÃO DA HISTÓRIA NEGRA

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Por Vanderlon Fabiano Garcia da Costa

Crédito: Professora Carmelita Maria da Silva

Fonte: Facebook/Prefeitura Municipal de São Carlos-SP

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Fazendo uso de sua rede social, nosso mestre do basquetebol social, professor Vanderlon como conhecemos, relata a história de vida de seu falecido pai que durante décadas, reuniu importantes documentos históricos do negro, história essa não contada nos livros. Um grande acervo cultural que relata a  história do negro no Sul do Brasil e em outros Países.

 

Intitulado “Fronteiras do Baú”, a exposição de cunho cultural/educacional também foi fonte de capacitação de professores pela Lei 10.639/03 Lei de Diretrizes e Bases da Educação que inclui no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da presença da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Africana”.

 

Segue a fala na integra para que todos possam acompanhar a homenagem de Vanderlon ao seu pai Vanderlen Amaral da Costa “In Memoriam”:

 

 

O GUARDIÃO DA HISTÓRIA NEGRA
Em 04 de Setembro de 1937, nascia Vanderlen Amaral da Costa, gaúcho da cidade de Lavras do Sul, filho de Dorcelina Freitas da Costa e Higino da Costa; Entre os anos de 1943/44, seus pais decidem morar definitivamente na capital gaúcha, seu pai era um sapateiro de “Mão Cheia”, tanto que ao chegar em Porto Alegre, logo montou seu estabelecimento indo morar num bairro novo que se chamou Morro dos Alpes, um morro perto do conhecido Morro da Glória.
O guri então começa conhecer sua vizinhança que naquela época dos anos 40, assim se dá o início de 1 de suas 3 grandes paixões que o acompanharam por toda sua vida.
O Colorado, seu time de futebol, o gosto por antiguidades e o seu bairro preferido, os Alpes.
Quando começou a torcer para o Internacional, Vando (assim era chamado no bairro), lembra de estar uma vez com seus irmãos mais velhos, e que outros meninos negros perguntaram para eles qual era o time que eles torciam, logo, um dos meninos que havia chegado, responde com uma afirmação de que “negrão tem que torcer pro Colorado”, naquele tempo os negros tinham o Sport Club Internacional como uma referência positiva, num time que os aceitava mais, sua resposta fora automática “ Então, Eu sou Colorado”, e assim também começa o ativismo negro em Vanderlen.
Brincando com seus amigos, Vando ainda menino, vê chegar um cidadão aparentando perdido e pedindo informação de um morador do bairro, ao ver o nome e o endereço da casa,
seu Higínio responde: É o Sr. José, o “Antiquário”, pedindo que o menino e seus amigos o levassem até o local; no caminho, Vanderlen pergunta ao senhor que o acompanhava o que
era ser um antiquário, e o homem responde que era uma pessoa que conhecia objetos antigos sabendo o valor que possuíam.
Ao chegar na casa do “Antiquário”, Vando se depara com um monte de objetos que nunca tinha visto, e ao ver os dois senhores conversando viu que o visitante puxou uma níqueleira (um porta moedas) do bolso e tirou algumas moedas de ouro, prata e também de cobre que o deixou fascinado; daí por diante, aquele guri decidiu que seria um antiquário também.
O gosto pela leitura veio através do Gibi, já que sua mãe o tira da escola para trabalhar e assim comprar roupas para suas duas irmãs mais novas.
Sua alfabetização naquela época, 4º ano primário, foi suficiente pra manter sua leitura e assim
pode ler de tudo.
Logo começou a expandir sua coleção, aprendendo sobre filatelia e também numismática, aprimorando seu conhecimento em cédulas, moedas e selos do Brasil, bem como de outros países.
Já com seus 17 anos de idade, Vando, andando no círculo de jovens colecionadores, percebeu que alguns de seus amigos tinham em suas coleções muita variedade em objetos, mas, que o
motivo era de cunho histórico, pois eles buscavam resgatar sobre suas origens, tudo que mostrasse suas histórias e suas ancestralidades.
Foi então que o jovem rapaz resolve também assim como seus amigos judeus, alemães e italianos, a procurar tudo que fosse relacionado ao povo negro.
Vanderlen muda o foco de sua coleção, onde observou que a informações do negro eram escassas e vendo que teria uma luta árdua para garimpar onde sua busca tinha que ser minuciosa e nos pequenos detalhes, não só em que ele já conhecia que eram selos, moedas e cédulas, mas ampliar seu olhar em pinturas, jornais, livros, revistas, e uma gama de outros objetos.
Por anos, Vando guardou tudo em seu baú uma variedade gigantesca da sua coleção particular sobre o negro, mas não queria guardar pra si só o que adquiriu ao longo dos anos,
não só em material mas principalmente sobre a invisibilidade negra e sua contribuição com a riqueza deste país que por mais que tenha contribuído neste país, sendo os primeiros imigrantes, que juntos com os portugueses, ergueram com suas mãos calejadas este Brasil, mas que por motivos raciais suas conquistas aqui, ficam no esquecimento da sociedade.
Seu sonho, sempre foi mostrar para a sociedade em geral (negros e não negros) todo seu acervo e mostrando o protagonismo dos negros.
Desde criança, eu ( Vanderlon) já sabia que meu pai tinha esta coleção, sendo eu seu filho mais novo entre os homens, lembro que via algumas coisas quando ele trocava ou comprava  de outros colecionadores lá no Brique da Redenção, seus olhos brilhavam a cada objeto novo.
Anos se passaram, aproximadamente 5 décadas a sua coleção permaneceu no baú sem mais ninguém saber, até que um dia… em 2010, eu Vanderlon Fabiano Garcia da Costa e minha
companheira a professora Carmelita Maria da Silva, após meses convencendo de que estava na hora de expor sua coleção, para que todos pudessem compartilhar todo o seu conhecimento adquirido.
Aos 74 anos, Vanderlen Amaral da Costa estreia sua exposição batizada de FRONTEIRAS DO BAÚ, na cidade de Rio Claro – SP, onde começou a repercutir em diversas cidades entre
elas: Jaú, Sertãozinho, Pirassununga, Araraquara, Matão e a cidade de São Carlos que em 2014 teve a Lei 10.639/03 através do TAC implantada e implementada, esta exposição esteve por 3
vezes e já haviam programado o retorno para 2020, mas coincidiu com o início da pandemia.
Durante 8 anos, estivemos andando juntos, meu pai, minha mulher e eu nesta jornada, conhecendo pessoas e personalidades negras encantadores e ver meu pai com seus olhos brilhando como de uma criança, vivo e radiante, num sonho que começou quando ainda era apenas um jovem negro que pensou como ele poderia contribuir para o fortalecimento histórico e ajudar sua etnia a se reconhecer como pertencente desta nação…
“Sonho realizado em vida “
O Sr. Vanderlen o “Antiquário”, nos deixou no dia 22 de agosto de 2021, devido as complicações da Covid-19, e hoje estaria completando 84 anos de idade, mas com certeza seu legado será levado por mim até quando Deus permitir.
Parabéns onde tu estiveres meu pai!
Gratidão sempre por todo amor, ensinamento e conhecimento histórico e orgulho por ter vivido de perto com um grande “GRIOT”.
Saudade, é algo que sentirei, mas tenho o entendimento que não estás sozinho e sim ao lado dos teus pais e irmãos … está matando a tua saudade. Logo nos veremos novamente…
Por Vanderlon Fabiano Garcia da Costa

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