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PROFESSORES E ALUNOS VÃO À CÂMARA PARA REPUDIAR ATO DE VEREADORES NO CARMINE BOTTA

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Folha SCR

25/09/2018

 

Movimento formado por professores, membros de sindicatos, ativistas e alunos repudiou na sessão da Câmara Municipal desta terça-feira (25) o ato dos quatros vereadores que foram na Escola Municipal Carmine Botta, na manhã da última terça-feira (18) questionar os desenhos sobre intolerância religiosa e sexualidade. Para o movimento, os vereadores invadiram a escolas e agiram com autoritarismo, intolerância e preconceito. Vereador Leandro Guerreiro (PSB) ignorou a manifestação.

Durante a sessão professores e alunos exibiam cartazes contra preconceito e intolerância religiosa. Alunos da Carmine Botta usaram a Tribuna Livre contestando o direito dos vereadores adentrarem na escola, a retirada dos cartazes, pediram autonomia didática e cobraram uma retratação dos parlamentares envolvidos.

“Não vamos tolerar discurso de ódio, que pregue a LGBTfobia, racismo, intolerância religiosa, qualquer lógica fascista”, disse um aluno do Ensino Médio na Tribuna da Câmara presente.

A professora de Ciência da escola Carmine Botta, Rosane Santos, leu uma carta de esclarecimento e repúdio que se tornou um manifesto na internet, assinado por 1541 mil pessoas. Na carta dizia que foi desenvolvido um trabalho escolar que visou abordar a diversidade cultural, seus conceitos e os tipos de intolerância presentes na sociedade. No mesmo texto dizia que condenava a tentativa de coibir a liberdade de pensamento e de expressão dos alunos pelos vereadores.

Nas paredes do corredor da Carmine Botta havia cartazes com textos sobre preconceitos contra LGBT ((Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgêneros), intolerância, ladeados por gráficos. Um cartaz reproduzia um desenho que ilustrava a imagem de um homem, com aparência de cristão e munido de uma bíblia, com o braço estendido na direção de duas mulheres seguidoras de religião de matriz africana, retratando um ato de intolerância, dizendo: “Sai, tolerância”.  Outros cartazes exibiam frases “Exú não é demônio”, “Somos Todos Iguais”. Os trabalhos foram confeccionados por alunos do 9º ano.

Após reclamação de parte de pais de alunos, o vereador Leandro Guerreiro arrancou os cartazes das paredes e os levou até a diretoria da escola para questionar os desenhos. Os vereadores Edson Ferreira, Moises Lazarine e Lucão Fernandes estavam presentes.

De acordo com a professora, Leandro agiu de maneira agressiva e arbitrária retirando cartazes, na tentativa de impedir a livre manifestação de pensamento por parte dos alunos sem consentimento da equipe gestora.

“Os outros vereadores ficaram intimidados e que não sabiam que se tratava, mas o Leandro foi autoritário. Nós estamos aqui hoje porque fomos afetados diretamente pelo preconceito,  intolerância, pela ausência de diálogo de alguns vereadores do nosso poder Legislativo  e estamos aqui para mostrar para nossos alunos, à sociedade o  trabalho que estamos fazendo e como  a gente deve caminhar no sentido de respeito a diversidade cultural neste país”, disse a professora Rosane.

O vereador Leandro Guerreiro foi citado durante o discurso do vereador Moises Lazarine e teve o direito a um minuto da Tribuna Livre. O vereador já tinha provocado o movimento antes com gesto de arma e óculos Thug Life, que retratam o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL).

Na ocasião do discurso os manifestantes viraram de costa para o plenário a fim de ignorar o parlamentar. Leandro fez um discurso ácido contra os professores e fez um trocadilho com a sigla LGBT.

“A vagabundagem é tão grande nessa cidade que eu consegui com esse ato deixar nossas crianças em paz nesta terça-feira. Os bandidos estão todos aqui. Olham pra mim, canalhas da esquerda”. Em seguida exibiu em cartaz com a sigla LGBC, traduzido como Leandro Guerreiro Bolsonaro nosso Capitão.

A reação veio em forma de protesto. No mesmo momento membros do movimento xingaram  Guerreiro de lixo, vagabundo e usaram palavrões. O coro de fascista e Ele Não, em referência a Bolsonaro, também foi ecoado.

Leandro, ainda, mostrou um cartaz com as figuras dele e de Bolsonaro protegendo crianças, que estavam soltando pipas, jogando amarelinha e futebol, com espada e escudo, de sindicatos, professores de esquerda, PSOL, PSTU, sexo, violência, drogas, LGBT. No cartaz tinha frase “Vamos proteger nossas crianças! Respeitem os cristãos.

“Podem continuar me chamando de machista, fascista,  estão pegando leve. Têm mais palavras para usar contra mim? Eu esperava mais desse movimento, tem sindicatos, professores de esquerda,  partido político, o LGBT. Por traz disso tem também a putaria, mentira, sexo  para nossas criancinha e arruaças que pode destruir a cabeça de uma criança, tudo  coisas malignas”, disse Leandro.

Guerreiro disse que não estava preocupado com o ato. “Não me importo com meu cargo nem com minha vida. Não fiz nada de errado, porque não tem nenhum vídeo de eu arrancando cartazes de forma violenta, ofendendo professor, por que eles não têm prova contra mim. Só tem depoimento e depoimento pode ser falso. Eu quero esses esquerdistas se dane”.

Na sequência reiterou. “Nossas crianças estão sendo agredidas, querem empurrar putaria, querem  falar na cabeça do seu filho de seis anos que é homem que ele pode virar menininha. E querem falar para a sua filha, sua princesa, que ela pode virar machinho. Vamos combater essa desgraça que querem levar para escola. Se pudesse voltar a trás eu arrancaria e até rasgaria o cartaz dessa vez”.

Durante o discurso, Lucão Fernandes, um dos vereadores que foram à escola, defendeu o ensino de intolerância religiosa. “Eu fiquei satisfeito com as informações que fui buscar na escola. Tratava-se de tema de intolerância e eu disse que tema que tem que ser debatido dentro de sala de aula e nas mesas dos nossos lares”. Mesmo assim, Lucão foi chamado de omisso pelo movimento.

Estavam presentes apoiando o ato dos professores e alunos membros do Sindicato dos Professores e Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP) e do Sindicato dos Servidores Públicos e Autárquicos Municipais de São Carlos (SINDSPAM).

Sobre o cartaz

As figuras dos cartazes geraram polêmicas porque alguns vereadores interpretaram como ofensivas e pejorativas.

“O cartaz que fazia menção fazia apologia favorável ao movimento LGBT mostrando que eles são coraçãozinho paz e amor. Inclusive na foto do cartaz tinha um coração na cor da bandeira LGBT, uma bandeira exposta no mural da escola para nossas crianças. Em relação à intolerância religiosa eles pregam contra o ódio, mas ao mesmo tempo mostram certo ódio. Colocaram um cristão na posição de agressor contra duas mulheres”, disse Moisés.

“Mesmo que não concordo com as práticas de uma religião eu jamais vou concordar com intolerância. Trataram as pessoas que seguem o movimento LGBT de maneira carinhosa e cristão como pejorativos, agressores e intolerantes”.

Segundo a professora do Carmine Botta Rosane Santos o cartaz quis retratar que as religião de matrizes africanas são as que mais sofrem intolerância no Brasil.

“O cartaz traz a imagem de um homem sendo intolerante com mulheres que estão praticando alguma religião de origem afro-brasileira. O livro que ele tem na mão é uma cruz, mas junto  temos um gráfico que mostram dados que as religiões de matrizes africanas são as que mais sofrem com intolerância no Brasil. Então existe todo um conteúdo que se ler e interpretar qual é mensagem que os alunos querem passar”.

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