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O PALCO VAZIO

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By Ney Vilella

29/04/2022

 

Ângelo Bonicelli ocupou os palcos de São Carlos – e de muitas outras cidades – desde o início da década de 1950. Brilhou sempre, como ator, mestre em dicção, diretor administrativo, incentivador de novas carreiras teatrais, dirigente de federação e confederação teatrais, representante da SBAT e agitador cultural.
Ângelo participou da fundação da Federação de Teatro Amador do Centro do Estado de São Paulo (FETAC), da Confederação de Teatro Amador do Estado de São Paulo (COTAESP) e do Instituto Cultural de Artes Cênicas do Estado de São Paulo (ICACESP). Dirigiu o Teatro Municipal de São Carlos por mais do que 25 anos, em cujo palco brilhou – claro – como ator, mas também como apresentador de eventos e até como bailarino!
Quero me despedir de Ângelo, contando o quanto seu brilho iluminou minha vida pessoal, partindo de tempos mais recentes e chegando à sua primeira interação comigo, na primavera de 1974 e início de verão de 1975.
Comecemos por 2006 (caramba, já se passaram quase 16 anos…): eu estava comemorando os meus 50 anos de vida e Ângelo – ao lado de Getúlio Alho – decidiu me presentear com a encenação de uma peça teatral, no dia de meu aniversário. A apresentação se deu em minha casa e para 50 convidados, escolhidos entre os meus amigos mais queridos. Em verdade, 49 amigos e um convidado surpresa, um jovem músico que queria me conhecer.
O músico, Rogério Bastos, tornou-se o meu parceiro definitivo, nos palcos em que me apresento com os shows Letras e Sons…
Estamos, agora, no finalzinho do século passado, quando Ângelo me leva a participar do ICACESP, onde se reúnem – até os dias atuais – os pioneiros do Teatro Amador de todo o estado de São Paulo.
Recuemos um pouco mais: no ano de 1981, Ângelo me convenceu a participar da diretoria da Confederação de Teatro Amador do Estado de São Paulo, que estava passando por mortal decadência. Argumentou mostrando que era minha responsabilidade tentar evitar o que já me parecia certo: o desaparecimento dessa valiosa instituição. Tentei, com o apoio de pessoas maravilhosas (como Jeppy e Wagner V. de Menezes, ambos de Franca; Toninho Macedo, da capital; e Cláudio Mendel, de São José dos Campos) recuperar a COTAESP, mas não foi possível. De qualquer forma, conseguimos fazer um último – e bom! – Festival de Teatro Amador do Estado de São Paulo, três anos depois. O festival ocorreu em São Carlos, com o apoio decidido do prefeito Dagnone de Mello e do Vereador Azuaite França; a ajuda (por trás das coxias…) do Ângelo; e do trabalho incansável de José Gentil Brito e Arlindo Basílio.
Em 1979, foi o Ângelo que me incentivou a reconstruir a FETAC, que estava paralisada há algum tempo…
Eis-nos, finalmente, no primeiro ato dessa volta ao passado, no final de 1974 e início de 1975. Eu estava no primeiro ano da faculdade de engenharia, na USP-São Carlos. Viera de São Vicente, onde comecei minha vida teatral, rapaz tímido. Eu trabalhava fora do tablado, como iluminador de peças teatrais. Na primavera de 1974 subi ao palco, pela primeira vez, ao lado dos maravilhosos Kyky e Itapê, no espetáculo Alice no país que vai prá frente, apresentado pelo Grupo Teatral da faculdade (GTEESC). Ângelo assistiu ao show e, depois, me convidou para participar em um curso de preparação corporal para o palco, que foi ministrado por Carlos Pinto.
O curso transcorreu no mês de janeiro de 1975. Numa das últimas reuniões, cordas – com nós – foram preparadas: amarradas no alto do teto de varas, chegavam a centímetros do palco. Os alunos eram incentivados a subir. Armei-me de coragem e fiz isso. Quando estava no alto, dez metros do chão, Ângelo pegou a corda onde eu estava e começou a girá-la. Devagar a princípio, mas a velocidade foi crescendo até ficar estonteante. O próprio corpo do Ângelo descolou-se do chão! E, lá no alto, o jovem tímido estava encantado, voando sobre as luzes dos spots, postados nas varas que estavam seis metros abaixo.
Decidi que jamais abandonaria os palcos. Palcos em que fui colocado, pelas mãos e impulso de Ângelo Bonicelli.
Ângelo, hoje o palco está vazio, em sua homenagem. Mas voltarei a ocupá-lo, breve. E também será em sua homenagem… Obrigado.

 

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