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Crime aconteceu durante a saída temporária do acusado em 2016; defesa alegava lesão corporal
O Tribunal do Júri de Araraquara condenou essa semana, em primeira instância, após horas de depoimentos, o detento Gustavo Chriscolin Machado a 36 anos e oito meses de prisão em regime fechado por roubar e tentar matar com 27 facadas a ex-namorada, Gisley Viviane Costa. O crime foi em um apartamento no conjunto habitacional da Vila Biagioni, no dia 27 de dezembro de 2016, justamente no intervalo entre o Natal e Ano Novo, quando o rapaz foi beneficiado com a saída temporária da prisão.
O ACidadeON teve acesso com exclusividade aos autos do processo. A ex-garçonete estava dormindo com seus dois filhos, quando seu ex-namorado, na época com 32 anos, que estava em liberdade provisória, insistiu para entrar em seu apartamento. Após uma discussão, ele a esfaqueou e a deixou jogada em um colchão, em um quarto ao lado de onde as crianças dormiam. Ela tem dois filhos. Ao ACidadeON, há alguns meses, ela falou sobre o drama sofrido e o trauma psicológico.
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“Enquanto estava preso, ele me ameaçava, me enviou cartas e dizia que ia me matar. Fui pedir ajuda para a polícia, mas não consegui nada. Ele saiu da prisão e voltou a me procurar. Ele sempre dizia que me amava, que queria voltar, mas o nosso relacionamento tinha acabado antes mesmo dele ser preso. Já não existia mais sentimento algum, então eu sempre fugia dele. Até que, naquela noite, ele conseguiu entrar, ele estava na casa do irmão, que morava no mesmo conjunto habitacional que eu, então chegou até a minha porta com facilidade”, conta.
Em seu depoimento, parte dele replicado em plenário, Gisley conta sobre aquela madrugada: “Durante a discussão eu pedi várias vezes para ele não me matar, mas ele dizia que não tinha nada a perder. Ele estava decidido e estava armado com a faca. Foram momentos que pareciam um pesadelo. Ele me perguntava se o meu Deus era capaz de me salvar, porque ele queria me matar”, relembra. Gisley ficou quase um mês internada em estado grave, até que se recuperou e voltou para casa.
As facadas deixaram várias marcas. Uma delas na mão direita, o que impossibilita o movimento dos dedos e consequentemente, Gisley não consegue mais trabalhar. Ainda em 2016, três dias depois do ocorrido, Gustavo foi preso escondido na casa da mãe. E segue assim. No julgamento desta semana, apesar das marcas e das 27 facadas desferidas por um preso em liberdade na saída temporária, a defesa tentou manter a estratégia adotada durante todo o processo de que não se tratava de tentativa de homicídio e sim lesão corporal dolosa. O promotor Herivelto de Almeida conseguiu manter a denuncia de homicídio tentado.
Para o juiz José Roberto Bernardi Liberal, responsável pelo Júri, “não há que se falar em confissão espontânea, pois o réu negou o propósito homicida, além de invocar, em seu benefício, legítima defesa própria inexistente. Ou seja, não assumiu a sua responsabilidade criminal; ao contrário, dela tentou indevidamente se eximir ou minorar as suas consequências”, diz em decisão lida em plenário. E vai além. O acusado disse que o crime fora praticado pelo consumo de álcool e drogas não por “ato injusto contra a vítima”.
28/9/2018 07:49
ACidadeON/Araraquara
Por Claudio Dias
Marcas da violência: Gisley foi esfaqueada 27 vezes pelo ex-namorado (Foto: Amanda Rocha)