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A GUERRA CONTRA O OUTRO

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Por Ney Villela

07/07/2022

 

O recente episódio de estupro e engravidamento de uma menina de dez anos, divulgado pela grande mídia e repercutido pelas redes sociais, mostrou um fato intrigante: ao mesmo tempo em que todos debatiam o direito (ou não…) ao aborto, um enorme silêncio se fez, em relação ao estuprador.
Esta situação se verificou tanto no fato específico, como no plano geral. Não se falou a respeito do estuprador da menina, nem dos milhões de estupradores que provocam a decisão de se fazer (ou não…) um aborto.
Quem se coloca contra o aborto, deveria – em primeiro lugar – lutar contra todos os fatos que levam à decisão de abortar. Isso significa que tal pessoa deva propugnar a imediata, e severa, punição ao estuprador; a prisão certa, após a devida averiguação policial, de todos os que praticam abusos sexuais; e a desaprovação (ao invés do atual discreto encobrimento) social aos estupradores.
Quem é contra o aborto deve ser – antes de tudo – um firme defensor da igualdade de oportunidades (educacionais, de emprego e de remuneração) para as mulheres. Deve ser um garantidor ao livre acesso de contraceptivos a quem quiser utilizá-los; deve ser alguém que luta incansavelmente pelo acesso de todos a bons serviços de saúde, em todos os recantos do país.
Mas a verdade é que quase não há pessoas contra o aborto, mas há muitos que são contra quem acaba obrigado a praticá-lo.
A mesma coisa vale para a questão LGBTQIA+: tem muita gente que é contra a liberdade dos outros de fruir suas escolhas sexuais. Afinal, não há qualquer lei exigindo que você pratique o homossexualismo contra sua vontade, ou que o divulgue; afinal, as leis preocupam-se, tão somente, em garantir os direitos de quem é homossexual…
Os brasileiros também não são racistas, mas… um enfartado, rico e branco, não entrega o seu coração aos cuidados de um médico negro. E os afrodescendentes não costumam chegar aos cargos de chefia, nem recebem salários iguais pelo mesmo trabalho. As mulheres negras ganham menos e quase sempre só conseguem as colocações mais humildes. Enfim, os brasileiros não são racistas, mas não praticam a igualdade racial!
Muitos de nós somos a favor da família, mas só o “nosso” tipo de família. Somos “um povo de Deus”, mas não admitimos a existência de outras práticas religiosas. Amamos nossa pátria, mas a poluímos, desmatamos, depredamos bens públicos, desrespeitamos suas leis e instituições, desfiguramos suas paisagens, menosprezamos e exploramos outras regiões de nosso país, consumimos produtos culturais de outras regiões do planeta e menosprezamos os nossos bens culturais… A lista de nossa desconsideração pelas coisas de nosso país é longa.
Nossos jovens dourados se entopem de drogas, enquanto seus pais exigem que a polícia massacre os moradores das favelas, para se livrarem dos traficantes. Grandes empresários e cúpulas políticas apropriam-se de bilhões de reais, enquanto queremos ver ladrões de galinhas fuzilados.
Estamos em guerra contra o outro. E o outro é qualquer um que não faça parte de nossa turminha. Isso não vai dar certo. Não tem como dar certo…

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