Preencha os campos abaixo para submeter seu pedido de música:

Tocando agora: Carregando...

UM PAÍS QUE SE PERDEU

Compartilhe:
137523915_1598448607024386_5106263905911477732_n

Por Ney Vilela

15/09/2022

 

Eu nasci em 1956. Nesta época, o Brasil decidiu-se por crescer “50 anos em 5” e, de fato, foi isso o que aconteceu: Brasília foi construída, surgiram a bossa-nova e o Cinema Novo, ganhamos a copa do mundo e novas rodovias rasgavam os nossos sertões.
No começo dos anos 1960, eu jogava bola nos campos de várzea, com alegria e sem medo. Surgia a Universidade Nacional da Brasília e todos debatiam sobre como deveria ser o futuro de nosso país. No início dos anos 1970, tínhamos a esperança do crescimento econômico. No início dos anos 1980, o país livrou-se de uma ditadura sem qualquer conflito sangrento, com nossos compatriotas cantando nas praças e avenidas.
No meio dos anos 1990 finalmente nos livramos da inflação, as telecomunicações passaram a atender todos os brasileiros e todos puderam voltar a planejar suas compras de casas, automóveis e eletrodomésticos. O presidente da República, após duas vitórias no primeiro turno, teve a hombridade de não favorecer seu candidato, nas eleições presidenciais do início dos anos 2000.
As coisas começaram a se complicar a partir daí. Ainda no começo dos anos 2000, o homem que se elegeu presidente decidiu-se por dividir o país em dois grupos, numa batalha de “nós contra eles”. Não satisfeito, definiu que nosso passado era uma “herança maldita” e que todos que não seguiam a sua cartilha política eram inimigos do povo.
Ao final da década de 2000, tal governo – que jamais venceu eleições no primeiro turno – jogou todo o seu poderio político e econômico no apoio de uma candidatura presidencial tirada do bolso do colete. Usou-se o dinheiro e o aparelho de Estado como se fosse propriedade particular.
O início dos anos 2010 foi o de construção de guetos populacionais, como se cidadãos brasileiros tivessem como inimigos figadais os outros cidadãos da mesma pátria. Para se manter no poder, um grupo partidário “fez o diabo” e destruiu o equilíbrio orçamentário do Brasil, jogando-o em recessão econômica.
No final dos anos 2010, um aventureiro ganha eleições presidenciais com a promessa de moralizar a política. Mas, saído do ambiente de milícias, trouxe o espírito miliciano para governar o país. Com isso, as leis e instituições nacionais foram covardemente sucateadas e a violência – acompanhada da ignorância torpe – se tornou instrumento de governo.
Como resultado, nossa nação está se deteriorando: as pessoas estão mais pobres; o medo impede que se tenha um debate sobre como queremos construir nosso futuro; nossas cores e símbolos nacionais foram sequestrados por uma malta de militantes que escondem a covardia sob o manto da arrogância. Não é mais possível, sequer, discutir política em família. E as pessoas estão impedidas de exercerem a soberania sobre seus próprios corpos, por anões morais travestidos de guardiões da família e da religião.
Nossos monumentos culturais são vilipendiados; nosso meio ambiente está sob bombardeio; tornamo-nos párias entre as nações. Não há espaço, sequer para o diálogo, pois não se aceita o diferente.
Enfim, o Brasil é um país que se perdeu. E a culpa é inteiramente nossa.
NEY VILELA

Deixe seu comentário: