Preencha os campos abaixo para submeter seu pedido de música:

Tocando agora: Carregando...

OS REBANHOS

Compartilhe:
137523915_1598448607024386_5106263905911477732_n

Getúlio Vargas, que se suicidou em 24 de agosto de 1954, tornou-se o “pai dos pobres”, ao dar os primeiros – e decisivos – passos de nossa legislação trabalhista. A lógica getulista era a de que o Estado intermediasse as relações entre o operariado nascente e o empresariado, evitando – desta forma – embates sociais que poderiam redundar em crises econômicas e escaladas revolucionárias.
Os contingentes populacionais que se urbanizavam adoravam Getúlio, entregando-lhe protagonismo político e abdicando de se organizarem em sindicatos combativos. Lideranças pelegas, cooptadas pelo governo, transformaram os operários em rebanho que se sujeitou totalmente à liderança de Vargas. E os empresários viram multiplicar seus lucros pois era o Estado que se responsabilizava pela proteção ao trabalhador e pelo amparo social aos idosos. Getúlio também protegeu o empresariado, fornecendo aço e energia a preços baixos e impedindo a concorrência estrangeira aos produtos nacionais. Por último, vale a pena observar que – como os anos para as aposentadorias começavam a contar naquele momento – os custos da rede de proteção social ainda eram muito baratos; situação que perdurou até o final dos anos 1970.
Lula da Silva trilhou muitos dos caminhos abertos por Getúlio Vargas, entorpecendo o movimento sindical e chamando para o Estado a responsabilidade e os custos da rede de proteção social. Mas, no caso de Lula, o tempo estava correndo contra ele: ao mesmo momento em que a globalização econômica tornava difícil proteger os empresários contra a concorrência, a desindustrialização brasileira e o envelhecimento da população tornavam os custos, de amparo social, proibitivos. Isso obrigou o Estado a ampliar a arrecadação de impostos, indispondo Lula contra o empresariado (o que ficou mais claro no governo de sua sucessora, Dilma Rousseff). De qualquer forma, Lula também construiu o seu rebanho, formado pelo grupo mais pobre, sem emprego fixo, necessitado do amparo do Estado, e de intelectualidade avessa ao sistema capitalista.
Jair Bolsonaro buscou amparo no empresariado que quer se desvencilhar do Estado, nos brasileiros de classe média que não conseguem competir em ambiente de globalização, e no lumpemproletariado resultante desta incompetência. Como não tem o mesmo brilho que Lula ou Vargas, Bolsonaro mira-se no exemplo de Donald Trump e se escora no grande arrebanhador do lumpemproletariado brasileiro, que é representado pelas igrejas de convicção evangélica. E assim o atual presidente construiu o seu rebanho.
Os rebanhos, de Lula e Bolsonaro, representam maioria eleitoral e podem escolher o próximo presidente num momento em que é absolutamente necessário, para o Brasil, construir um novo caminho: precisamos preparar educacionalmente nossa população para as novas atividades produtivas de um mundo digitalizado; de uma ação de preservação ambiental e de uso de energia limpa; e de uma adequação cultural para a convivência com o diferente e o respeito ao criativo.

NEY VILELA

Deixe seu comentário: