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OS DOUTRINADORES

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Por Ney Vilela

22/07/2023

 

 

No começo deste século, em uma cidade do interior de São Paulo, um grupo de alunos perguntou em quem eu votaria, na eleição presidencial. Respondi que um professor, mesmo tendo suas posições políticas, deve, numa sala de aula, trazer subsídios para que os estudantes possam fazer suas escolhas. A partir daí eles passaram a me perguntar por características programáticas, e de atuação política, das principais candidaturas presidenciais. Respondi factualmente, embora seja claro que a partir de uma visão pessoal.
Resultou que alguns professores me acusaram de doutrinador e de preconceituoso em relação a candidaturas advindas de extratos humildes da população. Estes professores (deixo claro que eram minoria, na equipe) entraram em contato com alguns pais e esta pressão redundou na retirada, de minha alçada, de várias aulas.
Três anos depois, os óbices que apresentei em relação à candidatura presidencial que redundou vitoriosa, foram totalmente confirmados. Recuperei minhas aulas e ninguém me pediu desculpas. Não recebi qualquer ressarcimento. Mas – claro – os perdoei…
Foi interessante (mas não surpreendente) pilhar alguns desses professores e pais, em frente ao Tiro de Guerra, 20 anos depois, clamando por um golpe militar a ser desfechado pelo antípoda político do tal “candidato popular”, do ano de 2002…
A população humilde, do Brasil, é muito conservadora, especialmente nos costumes e na moral. E os mais instruídos, além de conservadores, são – também – autoritários. Eis as premissas que nos permitem entender por que, ao mesmo tempo, tantos pais de classe média reclamam de professores “doutrinadores” e apoiam as brutalmente doutrinadoras escolas cívico-militares.
Nessas escolas cívico-militares (que felizmente serão extintas, nos estados não governados por gente do Paleolítico Inferior), os pobres jovens passam por um processo de amestramento, e não de educação. Ao invés do incentivo ao pensamento, a obrigação do respeito hierárquico; ao invés da descoberta, a cópia; ao invés da rebeldia, a submissão.
E qual seria o exemplo a ser seguido, nestas escolas?

A competência técnica e administrativa de um Eduardo Pazuello?

A elegância, a educação de um Jair Bolsonaro?

A coragem para assumir suas responsabilidades, de um Mauro Cid?

O respeito ao erário e à alfândega, de um Bento Albuquerque?

A insubmissão ao resultado das urnas e às decisões da maioria, como é o caso de algumas centenas de militares?

Em verdade, este pessoal que agora está à “direita”, quer o mesmo que a turma dita de “esquerda”: que os jovens rastejem na submissão a líderes que sabem o que é bom para a Nação, ou que sejam os seres ungidos para proteger os fracos e despossuídos.
Um dos filhotes de Bolsonaro disse, esta semana, que os “professores doutrinadores” são piores do que os traficantes. Ele quase acertou (o que seria milagroso, pois ele erra sempre!): o filhotinho de Bolsonaro deveria retirar, apenas, o termo “professores”, da frase. Tais doutrinadores, que vivem das prebendas da reserva militar, precisam voltar aos seus sarcófagos, de onde nunca deveriam ter saído.
E que a nova geração de professores possa, apoiada em conhecimento científico e em capacidade de ensino, ajudar os jovens a vencer a barreira do conservadorismo que mutilou as gerações mais velhas do nosso país.

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