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MUITA FUMAÇA; NENHUMA LUZ

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Opinião

Por Ney Vilela

 

O Brasil é um país complexo. Sua realidade, multifacetada, convida ao estudo profundo, estudo que precisa ser construído pela análise e troca de ideias. Mas – na arena política, nas escolas, no trabalho e nos lares – cada um dos brasileiros pressupõe que já conhece a resposta para todos os nossos problemas.
Ao discutir as questões pertinentes ao nosso país, todos deveríamos – objetivamente – tentar compreendê-las, com o objetivo de solucioná-las. Mas, nessas discussões, todos parecem movidos pela vontade de persuadir os demais. Não temos diálogo, mas uma relação entre o sujeito que defende uma determinada ideia e outro que deveria aceitá-la como verdadeira.
Ao encararmos determinado desafio, deveríamos ampliar nossa capacidade de entendê-lo. Mas o que se vê é uma prefiguração e predefinição dos componentes do problema, afetando-os em seus significados e valores, de tal maneira que tudo é caracterizado enquanto se finge que ainda se está caracterizando a dificuldade a ser enfrentada.
Não há mais debates políticos; temos, apenas, embates ideológicos.
Vamos aos fatos: na questão estatização/desestatização, há um grupo que considera as estatais como patrimônio do povo e mecanismo necessário para que o Estado fomente e regule o processo econômico; outro grupo considera que as estatais são ineficientes, antro de corrupção e desperdiçadoras de recursos.

Não se verifica a utilidade econômica ou social de qualquer destas empresas, nem questões de soberania ou de planejamento estratégico; apenas se apresentam convicções ideológicas.
Quando o assunto é educação, observa-se que a teoria rousseauniana da bondade inata do ser humano gerou, para alguns, um espontaneísmo pedagógico que orienta toda uma filosofia educacional. Outros se deixam levar por correntes autoritárias da pedagogia, alimentadas por teorias psicológicas sobre agressão infantil e de comportamento de hordas, advogando-se a eficácia do castigo, testada no aprendizado dos ratos e dos chipanzés. Esses dois grupos só concordam em execrar quem propõe qualquer outra abordagem educacional.
Esse Fla x Flu ideológico está em todo lugar: preservacionismo x negacionismo ambiental; liberação x proibição do uso de armas; anti-imperialismo x louvação aos EUA; reacionarismo moral x militância LGBTQI+; disciplina militar x “é proibido proibir”; Lula x Bolsonaro.
É claro que não se está – aqui – enaltecendo algum tipo de mobilidade tática, típica de políticos profissionais, utilizando-a como uma espécie de salvo-conduto para fugir de qualquer confronto. O problema é que, ao se buscar qualquer tipo de consenso (ou, ao menos, alguma possibilidade de convivência), acabamos atacados por vozes sedutoras – seja do mundo acadêmico ou das feiras livres – que entoam os encantos da diferença, da pluralidade, do fragmento, da exceção, da errância, do descentramento, do acaso, das ambiguidades, das indeterminações, levando-nos a flertar com o caos.
Os brasileiros (somos só nós, ou esta praga é universal?) estão perdendo, rapidamente, a capacidade de escutar os outros e as suas razões. Houve época em que podíamos dizer: “da discussão, surge a luz”. Hoje, o que se tem é muita fumaça…
NEY VILELA

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