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AS FORÇAS ARMADAS SÃO GOLPISTAS?

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Por Ney Vilella

13/02/2024

 

 

Com o desenrolar da operação tempus veritatis, deflagrada pela Polícia Federal, a discussão sobre a existência de um “espírito golpista”, como inerente às Forças Armadas, reapareceu.
A argumentação, dos que atribuem instintos golpistas ao Exército, Marinha e Aeronáutica parece consistente, pois numera – no caso brasileiro – uma infinidade de quarteladas, começando com a Proclamação da República, passando pelo tenentismo, golpes na Era Vargas, tentativas de se impedir as posses de Juscelino e de Jango, Golpe de 64, chegando ao 08 de janeiro de 2023.
Mas, quando se pergunta sobre as lideranças desses atentados contra as instituições políticas, observamos que, com a exceção da Proclamação, são lembrados, apenas, nomes civis: Getúlio, Carlos Lacerda e Jair Bolsonaro (que foi defenestrado do Exército há mais de 40 anos).
Em verdade, as instituições podem ser usadas como ferramentas para um golpe, mas não são “golpistas”: nem Exército, nem STF, nem Imprensa, nem Congresso, nem igrejas. Tais instituições se tornam “golpistas” a depender da manipulação realizada por grandes grupos econômicos, ou por serem constituídas – de maneira hegemônica – por um determinado grupo social em busca de seus interesses.
Isto pode ser observado mesmo quando o golpe ocorre sob liderança de um militar. Deodoro da Fonseca (que, aliás, era monarquista) só levantou sua espada porque os cafeicultores que usavam mão-de-obra assalariada precisavam desalojar os velhos fazendeiros escravocratas, da máquina administrativa. Getúlio Vargas (um advogado e filho de vetusta família de grandes proprietários rurais) foi o grande baluarte da burguesia industrial nascente; os banqueiros, fazendeiros e burguesia urbana construíram a aliança que levou ao golpe de 64. Enfim, só podemos entender o 08 de janeiro, se identificarmos os esteios sociais em que Jair Bolsonaro se ancorou.
E não é difícil descobrirmos onde estão os seus apoiadores. Eles se encontram entre os amplos segmentos da burguesia que foram derrotados pela globalização e oligopolização da economia; entre os comerciantes que estão perdendo a briga para as grandes redes varejistas e para as compras on-line; entre os caminhoneiros, policiais, profissionais que obtiveram diplomas universitários em estabelecimentos particulares de baixa qualidade, que estão sendo arrastados para o lodaçal do lumpemproletariado; entre os nobres falidos. A estes perdedores unem-se ampla gama de milicianos e de pastores evangélicos. Por fim, alguns oportunistas fardados e lideranças políticas coronelísticas. Enfim, não é pouca gente…
Uma vez constatado quem fazia parte do grupo que “perdeu” as eleições de 2022 e que tentou a desforra, no início do ano passado, podemos ficar com a impressão de que a democracia “venceu”.
Não é verdade: o grupo que “venceu” o embate de 08 de janeiro é constituído por empresários incompetentes, apesar de monopolistas; banqueiros; elites do funcionalismo público; burguesia malandra; políticos demagogos que avassalam multidões de famintos; papas da mídia. Este pessoal, que também tem ojeriza à democracia, é muito numeroso, também.
Neste momento você – caro leitor – deve estar pensando que eu vou me colocar como membro e porta-voz do que há de decente, no país. E que eu vou nomear os grupos realmente democráticos e progressistas, existentes no Brasil.
Vou desapontá-los: já estou muito velho para me apresentar como “salvador da pátria”. E nós, brasileiros, desleixadamente deixamos de construir, nas novas gerações, as premissas do conhecimento, do respeito às leis, da devoção ao trabalho, e da solidariedade social, absolutamente fundamentais para se edificar uma pátria mais justa e feliz.
Não sabemos mais, sequer, jogar bola. E não adianta colocar a culpa nos militares…

NEY VILELA

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