Preencha os campos abaixo para submeter seu pedido de música:

Tocando agora: Carregando...

A COPA DA GEOPOLÍTICA

Compartilhe:
Ney-Vilela-nao-e-mais-secretario-Foto-redes-sociais

A minúscula península arenosa do Qatar tornou-se independente da Inglaterra, em 1971. O líder da família Al Thani (que comanda a região desde 1848), construiu uma estrutura política absolutista baseada na Sharia (lei islâmica), o que não impediu que seu próprio filho o derrubasse, em 1995…
O atual emir, Tamim bin Hamad Al Thani, recebeu o poder do pai em 2013. Governa um país de contrastes impressionantes, uma vez que é dono da 3ª maior jazida de petróleo do planeta e incomensuráveis reservas de gás natural, ao mesmo tempo que não teria a menor chance de enfrentar militarmente alguns de seus vizinhos, se for atacado…
Diante desta realidade, a família Thani tratou de permitir a instalação de uma base militar dos EUA. Tratou, também, de construir um “soft power”, uma vez que não seria possível competir (ou se proteger) dentro dos parâmetros do “hard power”. A lógica do “soft power” explica a construção de uma cidade universitária, com campi de várias universidades estrangeiras; e a criação de um polo turístico para visitantes de alta renda.
Explica, também, porque o Qatar decidiu-se por transformar-se em sede da Copa do Mundo.
Como as lideranças da FIFA (com parcas exceções) são profundamente corruptas, o primeiro passo foi razoavelmente fácil de realizar: o de ganhar o direito de sediar a Copa do Mundo de 2022. O passo seguinte, construir os estádios, foi bem mais complexo, exigindo a importação de várias centenas de milhares de trabalhadores, que aceitassem (ou fossem obrigados a) trabalhar sob o inclemente sol do verão no deserto…
É bom lembrar que os nascidos no Catar são, todos, muito ricos e não pagam impostos. Jamais se sujeitariam ao trabalho de construção civil dos majestosos prédios, ilhas artificiais ou estádios de futebol existentes no país. Por conta da importação de trabalhadores, o Catar está sob brutal crise demográfica: dos quase três milhões de habitantes, só 300 mil são nascidos no país; e as mulheres (por conta da impressionante importação de mão-de-obra) não chegam a 30 % da população total.
As tensões demográficas, as desigualdades sociais, as cruéis relações de trabalho, e a lei islâmica impedem a criação de um “clima de copa” e o congraçamento dos visitantes com a população. Tal situação potencializa as tensões intranacionais e internacionais das torcidas e das seleções. Assim, temos sérvios comemorando gols com gesticulação de símbolos cossovares; alemães tapando a boca, para a foto oficial; iranianos calados diante da execução de seu hino nacional; provocações entre estadunidenses e iranianos; brasileiros que torcem por Richarlyson e contra Neymar (ou vice-versa); proibição de braçadeiras que lembram as questões de identidade sexual. E não podemos nos esquecer da interdição da seleção russa, meses antes do início da Copa.
Para complicar, as grandes marcas de uniformes esportivos, além de exigirem que alguns jogos terminem à meia-noite, no horário local, para apresentar os jogos no horário nobre europeu, exercem pressão sobre as grandes nações futebolísticas que não possuem compatível força econômica. Estamos falando, aqui, dos países sulamericanos. Isto explica a inexplicável colocação de Arrascaeta no banco de reservas; a igualmente inexplicável ausência de Gabriel Barbosa; e a surpreendente decisão de Tite, ao colocar um time totalmente reserva, no jogo contra Camarões.

Enfim, os jogadores que ostentam seus uniformes nos valiosos gramados europeus são apresentados nos campos da copa, em detrimento dos jogadores que trabalham em arenas menos vistosas para as redes internacionais de esportes.
Ah, e os espetáculos futebolísticos? Bom, este é um detalhe de menor importância para os cartolas da FIFA, técnicos de algumas seleções, grandes empresas de material esportivo e para o Emir do Qatar. Só nos resta torcer para que Neymar, Mbappé, Messi, Cristiano Ronaldo nos salvem da monotonia.

NEY VILELA

Deixe seu comentário: